quarta-feira, 14 de abril de 2010

Jesus Universal, Cristo Cósmico

Paulo, o apóstolo, ensina que há gente que não sabe quem foi Adão e Eva, a história da Arca de Noé e do dilúvio, que Abraão é o pai da fé, que Deus abriu o mar vermelho, por intermédio de Moisés, na fuga dos hebreus do Egito, quais são os dez mandamentos e as leis cerimoniais, nem quem foram os profetas, muito menos o que eles falaram, ou seja, gente que embora não conheça a letra, conhece o espírito, da Revelação. “De fato, quando os gentios, que não têm a Lei, praticam naturalmente o que ela ordena, tornam-se lei para si mesmos, embora não possuam a Lei; pois mostram que as exigências da Lei estão gravadas em seu coração. Disso dão testemunho também a sua consciência e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os (Romanos 2.14,15, NVI)”.

Mas como essa gente veio a conhecer? Teria sido mediante uma prática meditativa, um sacrifício, um êxtase ou uma dedução filosófica? Pode ter sido por qualquer uma dessas formas ou por alguma outra forma escolhida por Deus para revelar a essência de sua mensagem, que transcende a todos os formatos teológicos e filosóficos, inclusive os fabricados pelo cristianismo. O certo é que gente que procurava a Deus - muitos sem ter consciência disto - que tateava para achá-Lo, não o encontrou, mas foi encontrado por Ele (Atos 17.16-31).

O mesmo Deus que permitiu que os povos andassem segundo suas inclinações culturais, suas tradições religiosas e filosóficas, e seus hábitos e suas superstições, não deixou de dar o seu testemunho (Atos 14.16,17). Ele deu seu testemunho na excelência da criação (Salmo 19) e na História. Assim como livrou os hebreus do Egito, libertou os filisteus de Caftor e os arameus sírios de Quir (Amós 9.7).

Tampouco deixou Deus de receber culto dos que o tinham como um Deus desconhecido (Atos 17.23). Àqueles que o adoravam conforme a letra, mas em espírito disforme, contrastou com os que o adoravam sem saber a letra, mas conforme o Espírito: “Ah, se um de vocês fechasse o templo! Assim ao menos não acenderiam o fogo do meu altar inutilmente. Não tenho prazer em vocês, diz o Senhor dos Exércitos, e não aceitarei as suas ofertas. Pois do oriente ao ocidente, grande é o meu nome entre as nações. Em toda parte incenso é queimado e ofertas puras são trazidas ao meu nome, porque grande é o meu nome entre as nações, diz o Senhor dos Exércitos (Malaquias 1.10,11)”.

Alguns alegam que a realidade descrita foi um fenômeno que se encerrou com vinda de Cristo. Que depois disto só pode ser salvo quem tiver conscientemente conhecido a Jesus Cristo, o recebido como o Salvador e sido batizado em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Estariam então condenados ao inferno milhões de pessoas que morrem sem ouvir falar de Jesus ou que ouviram somente as versões deturpadas Dele produzidas por algumas expressões do cristianismo? Ou será que as pessoas que morrem nessa condição, assim morrem por que não foram predestinadas para a salvação?

Creio que não! Aceitar a primeira hipótese seria limitar a ação do Espírito Santo ao alcance territorial missionário, à boa vontade dos cristãos de evangelizarem. Seria aceitar que os planos de Deus podem ser frustrados se a Igreja não adotar uma estratégia missionária eficaz.

Aceitar a segunda hipótese é incorrer numa visão reducionista e mecanicista da predestinação. É perceber Deus como se ele estivesse preso ao tempo. É afirmar que o NÃO de Deus é maior que o seu SIM, que sua ira é mais inclusiva do que sua graça.

Ora, Jesus é não um estepe que Deus colocou na roda da história porque a humanidade deixou furar o pneu. Jesus seria, então, na verdade um plano C, executado por Deus causa dos fracassos, do casal arquetípico – Adão e Eva –, em gerir o paraíso, e do povo hebreu em cumprir a Lei mosaica.

Creio, sim, que o Espírito sopra onde quer; que Ele não é delimitado por fronteiras religiosas, culturais, étnicas e políticas. Os magos do Oriente receberam a Revelação por intermédio de uma conjunção planetária (Mateus 2.1,2). Cornélio, chefe da guarda romana, um pagão, recebeu a Revelação através de anjo numa visão. A Revelação precedeu a informação. O Espírito foi assimilado antes do conhecimento da letra, trazido por Pedro (Atos 10). Fenômeno que tem se repetido ao longo da história (Leia “O Fator Melquisedeque”, de Don Richardson, Edições Vida Nova).

Creio, sim, que o Evangelho que é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê não é uma teoria, uma filosofia, uma ideologia, uma doutrina ou mesmo a Bíblia. O Evangelho é uma Pessoa, Jesus Cristo, que se revela espiritualmente, porque é o Salvador do mundo. Não passou a ser o Salvador depois que se encarnou, Ele sempre foi. O Cordeiro foi imolado antes da criação do mundo e é conhecido desde então (Apocalipse 13.8b; I Pedro 1.19, 20). Cristo era a rocha espiritual, da qual, os hebreus inconscientemente bebiam no deserto e que os acompanhava na travessia (I Coríntios 10.4). E que muita hoje tem bebido e caminhado ao lado, embora não tenha tido o conhecimento histórico de Jesus Cristo.

O Jesus que se revelou em carne e osso, como a imagem do Deus invisível, como expressão exata do ser de Deus, há mais de 2.000 anos, se revela espiritualmente como salvador desde que o mundo é mundo. E assim é, porque ele é sacerdote segundo a Ordem de Melquisedeque, não segundo a ordem de Judá, sua descendência física, porque era a tribo de Levi que tinha a exclusividade de fornecer sacerdotes, àqueles que intercediam pelo povo mediante o oferecimento de sacrifícios a Deus (Cf. Hebreus 7.14).

O sacerdócio de Jesus não está preso a uma linhagem sanguínea. Levi era filho de Jacó, o patriarca que teve 12 filhos dos quais originaram as 12 tribos hebraicas que, posteriormente, formaram o Reino de Israel; ou seja, os levitas podem ser rastreados na história. Já Melquisedeque, cujo nome significa “rei de justiça” e que era rei de Salém, que quer dizer “paz”, que era a antiga cidade de Jerusalém, não teve pai nem mãe, nem genealogia, nem princípio nem fim; isto é, seu dna não pode ser decodificado, todavia, feito semelhante ao Filho de Deus, é sacerdote desde a fundação do mundo e por toda a eternidade (cf, Hebreus 7.1-3).

Este Melquisedeque centenas de anos antes de Levi nascer foi ao encontro de Abraão com pão e vinho – alguma semelhança com o corpo e o sangue de Cristo? - e o abençoou, recebendo dele o dízimo (Gênesis 14.18). O autor da carta aos hebreus afirma: “Sem dúvida alguma, o inferior é abençoado pelo superior. No primeiro caso [sacerdócio levítico] quem recebe o dízimo são homens mortais; no outro caso [sacerdócio de Melquisedeque] é aquele de quem se declara que vive”. (Hebreus 7.7-8, colchetes meu). É por isso que Abraão nascido há milênios antes de Cristo o viu e se alegrou (Cf. João 8.56).

Sim, conhecer a letra é um privilégio. Ter a Revelação explícita, codificada, tornada Escritura, é uma bênção. Mas só será uma vantagem diante daqueles que a tiveram de forma enigmática, subentendida, nas entrelinhas, se a Escritura se tornar Palavra de Deus, se nos apropriarmos dela como fonte de conhecimento espiritual, se a lermos além da letra, se não desprezarmos o Espírito. Caso contrário, não há vantagem alguma, mas há, sim, um juízo especial: “A quem muito foi dado muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido Luca