terça-feira, 29 de junho de 2010

Opinião: Brasil x Chile e agora Holanda

Bastou uma simples alteração, a entrada de Ramires – diga-se de passagem, forçada, devida a contusão de Felipe Mello -, para a seleção ganhar em leveza, velocidade e mobilidade. Ramires jogou do jeito que se espera de um segundo volante e um pouco mais. Marcou um pouco mais adiantado, cobriu os avanços dos alas, deu rapidez na saída de bola do meio-campo para ataque, avançando por vezes como um meia atraindo a marcação da defesa adversária e abrindo espaço para os alas e os atacantes atacarem, além de servi-los. Para mim ficou claro mais uma vez que Ramires rende mais como segundo volante do que como meia.

É verdade que o Chile como se esperava não jogou na retranca, saiu pro jogo, abrindo espaço para o Brasil jogar. Até o Michel Bastos jogou além da medianidade. Mas, mesmo que jogasse na retranca é mais fácil furar o bloqueio com um jogador como Ramires – que também não é lá essas coisas - do que com Felipe Melo. Considero este um jogador esforçado, disciplinado taticamente, mas com escassa habilidade e capacidade de improviso. Basta o Gilberto Silva como volante de contenção, papel que tem representado bem, além do de terceiro zagueiro adiantado em alguns momentos das partidas.

Lúcio mais uma vez atuo como um craque da defesa que é: rápido e preciso na marcação, habilidoso na saída de bola e seguro nas bolas altas, além de ajudar no ataque nas bolas paradas buscando o cabeceio, e atraindo a marcação para outras cabecearem como no gol do Juan. Kaká mas uma vez compensou seu potencial de arranque reduzido, devido à contusão, com voluntarismo tático e precisão nas assistências, como no gol de Luís Fabiano.

Contra a Holanda o Brasil vai enfrentar novamente uma equipe que saí pro jogo, mas com o adicional de ser mais técnica que o Chile. O time holandês é rápido, habilidoso e que troca bem os passes. Muito bem organizado taticamente. É uma equipe onde os antigos pontas sobrevivem e são peças-chaves, o que deve dar bastante trabalho para o Maicon e o Michel Bastos.

Ramires que bem entrou, não estará devido à suspensão. Os possíveis substitutos, Felipe Melo, Elano e Julio Baptista ainda não se recuperaram das contusões, são dúvidas. Torço para o Elano poder jogar. Ele é um jogador que voluntarioso, que joga em função da equipe, taticamente muito importante. Caso contrário, eu ousaria. Como a Holanda é uma equipe que sai para o jogo, recuaria o Daniel Alves como segundo volante e o Robinho como meia-atacante e colocaria o Nilmar para fazer dupla de ataque com o Luís Fabiano.

Brasil e Holanda costumam proporcionar grandes espetáculos, jogos dramáticos, como o da semifinal de 1998, definido nos penaltys em favor do Brasil. É um jogo que qualquer que for o vencedor não será surpresa, a não ser que seja uma goleada. Torço para o Brasil, mas se apostasse, apostaria 50% em cada seleção.

O ser amado e a gratidão

Quem já viveu a experiência de ser amado por alguém que ama sabe que a resposta natural a essa conjugação de almas - às vezes também de corpos - é a gratidão. Veja bem, digo a experiência de ser amado, não de simplesmente ser desejado. Para ser desejado, basta saber seduzir, cativar a atenção e o desejo do público. Basta saber atrair sobre si a projeção das fantasias da platéia, e corporificar os objetos de desejo dela. É afrodisíaco, deixa a gente vaidoso, mas não gera em nós o sentimento de gratidão, que nos "põe de joelhos". Pelo contrário, reforça o nosso narcisismo, e faz com que a gente "se ache", pense de nós além do que convém, nos viciando a jogar pra torcida.

A gratidão por ser amado é natural e nos "põe de joelhos" perante Deus e a vida, porque instala em nós a confiança no valor que temos para nós e para os outros. À medida que essa confiança cresce em nós o desejo de poder, a necessidade de demonstrar força , de "causar" decresce. E o inverso é verdadeiro. À medida que decresce em nós a certeza de sermos amados cresce em nós o desejo de poder. Seja o poder positivo para demonstrar o nosso vigor, quanto o poder negativo, isto é, de resistência, para demonstrar que não somos inocentes e carentes ao ponto de não percebermos as segundas e terceiras intenções, o cálculo frio, por trás dos gestos de amor e de amizade, e nos entregarmos a qualquer sedução.

A gratidão, porém, é possível mesmo quando as circunstâncias não são favoráveis a sua expressão natural embalada de ternura. Quando a sensação de "ser amado" está embotada, e as memórias afetivas e festivas estão desconstruídas por um realismo sombrio. Quando a percepção da sagacidade, da simulação, do oportunismo do mundo que é mal, é levada mais em conta, do que a percepção dos sinais de graça, de generosidade e de beleza deste mesmo mundo, que a despeito da maldade humana que o faz ser o que é, não deixa de ser visitado pelo amor de Deus. Mais do que possível, a gratidão se faz necessária nessas circunstâncias.

Trata-se de uma questão de autodeterminação. Tem coisas que a gente primeiro precisa fazer, para depois sentir. Senão, a gente começa a se ressentir e vira presa fácil de ser dominada pela compulsão da revanche, de “dar o troco a mais” aos nossos detratores e traidores, de fazê-los “calar a boca” e nos “engolir”. Pessoas dominadas por essa compulsão comprometem sua capacidade de fluir e frui nas suas vitórias, de gozá-las, porque elas encaram suas conquistas como uma desforra, uma vingança. Seus corações não ficam pacificados, pelo contrário, eles ficam excitados a procura de um outro motivo para vingar e um outro alvo para se vingar. Não há trégua, eles querem mais guerra.

A gratidão nos liberta dos grilhões do ressentimento, da necessidade doentia de ter que provar para os outros o que somos - ou o que não somos -, porque nos habitua a reconhecer a graça e a misericórdia nas nossas vidas; a identificar que, mesmo nos pontos críticos das nossas existências, elas jamais faltaram - e basta um olhar mais acurado para perceber que jamais faltou quem nos fizeste o bem; e a perceber que o bem mesmo quando feito com intenções egoístas contribuiu para o nosso patrimônio. Mas a implicação maior de uma atitude grata é a possibilidade de transitarmos com liberdade na vida, sem revanchismo, sem pressão por “acerto de contas”, sem afetos a reprimir, porque ela atualiza nossa capacidade de amar e de ser amado – pois para ser amado é preciso saber amar –, ampliando nossa percepção de ser amado e desembotando nossos afetos para amar e receber amor.

Não se trata de negar o diabólico na vida, as sombras por trás das luzes, e se alienar num conformismo pseudo-satisfeito ou num romantismo piegas, numa atitude irrealista. Pelo contrário, a gente só amadurece, isto é, cresce de modo sustentável quando tem uma atitude realista perante a vida, o que implica reconhecer o mal, que há trevas, que demônios operam, alguns sob forma humana e outros sob forma de demônios. Mas a mesma atitude realista implica em reconhecer que é mais racional, econômico, rentável e saudável investir naqueles que torcem por nós do que naqueles que torcem contra nós. Que é mais lucrativo ocuparmos o nosso tempo com quem nos quer bem.

A mística da paternidade

Uma das experiências místicas que mais tem me tocado ultimamente é da paternidade. Digo mística porque é uma experiência transcendente para quem está aberto, se permite ser tocado e transformado por sua sublimidade. Uma experiência que faz ir além da materialidade da vida. E não se trata de ser arrebatado, entrar em transe, em êxtase, mas sim de ser permeado por um sentido existencial, de ser envolvido por uma nuvem de mistérios, que resignifica nossa escala de valores e nos livra da importância de tantas “desimportâncias”. Não se trata também de misticismo porque não se intenta manipular mecanicamente o mundo espiritual, fazê-lo convergir aos nossos interesses - como se isso fosse possível. É uma vivência que nos põe de joelho, nos faz sentir pequenos, mas não apequenados, porque nos faz sentir integrado em pequenez com a imensidão do universo, num estado de harmonia com o cosmos.



Calma, não sou pai, não estou na iminência de ser, nem tenho esta pretensão no momento, até porque o instinto paterno ainda não se manifestou em mim. Mas nem por isso deixe de ficar comovido com o efeito metamorfoseador que a paternidade tem produzido num amigo, Humberto Lima de Aragão Neto.



Beto é o único amigo que conservo desde a época da infância. Sujeito sério, moderado no falar e no agir, cuidadoso e dedicado nos seus relacionamentos, leal nos seus compromissos, conservador nos seus hábitos e nos seus investimentos. Não pensa de si além do que é, tem consciência do seu estimado valor. É uma pessoa ética, responsável e competente naquilo que faz. Hoje ele é um publicitário pós-graduado de sucesso, atua no Cento Universitário São Camilo.



Todas essas características tem sido constante ao longo desse mais de quinze anos de caminhada amiga. Seu sucesso atual obtido, não sem muita dificuldade, é resultado dessa progressão continuada Mudanças ocorreram é claro, houveram atualizações, graças a Deus – lamento pelas pessoas que não se atualizam -, mas dentro de uma mesma linha, sem reviravoltas, desvios bruscos, giros de 180°. Ou seja, quem o conheceu há muito tempo e reencontrá-lo hoje, não vai ter aquela surpresa do tipo “nossa como você mudou”, “nem parece aquele menino”, vai sim constatar que o progresso que ele tem tido está ligado a sua disciplina metódica. Conforme já falei para ele, parece que desde criança ele tinha mais ou menos claro o que queria e desde então já traçava seu destino com parcimônia. Ciente dos recursos que tinha procurava otimizá-los ao máximo para potencializá-los, para fazer render mais. Este foi o caminho escolhido por ele.



Porém, paradoxalmente, o que me inspirou a escrever esse texto foi uma surpresa que tive com ele. Foi à revelação de uma face que eu não imaginava, a saber, de um “pai coruja”. Ele que, via de regra, sempre foi muito comedido, cauteloso nas expressões de afeto, desde que o nascimento do Arthur foi sinalizado foi tomado por uma paixão avassaladora, que aqueceu seu coração a tal ponto que suas afeições borbulham, irradiando energias positivas que contagiam o seu entorno. O seu semblante sério se enternurou refletindo o espírito lúdico que se atualizou nele.



É comovente ouvir o Beto falar com alegria entusiástica do “Arthurzinho” – como ele se refere ao rebento –, vê-lo brincar como uma criança, sem vergonha, com o rebento, pedir para ele falar no telefone comigo. Ver um amigo feliz é uma grande satisfação. E o Arthur, como fruto de amigos, de um casal que fui padrinho, já está arrolado no meu coração.



Peço a Deus que continue irradiando sabedoria aos Beto e a Patrícia para educar seu filho no caminho da virtude e da simplicidade do Evangelho de Jesus, para que o Arthur cresça um homem nobre e generoso - conforme o significado celta do seu nome – e honre o legado de sua estimada família.



Em breve chegará ao mundo mais um Arthur, filho de Damaris e Rafael, gente querida da caminhada, que mora no meu coração, de quem também fui padrinho de casamento. Já os avisto sinalizar essa mística contagiante.