terça-feira, 29 de junho de 2010

A mística da paternidade

Uma das experiências místicas que mais tem me tocado ultimamente é da paternidade. Digo mística porque é uma experiência transcendente para quem está aberto, se permite ser tocado e transformado por sua sublimidade. Uma experiência que faz ir além da materialidade da vida. E não se trata de ser arrebatado, entrar em transe, em êxtase, mas sim de ser permeado por um sentido existencial, de ser envolvido por uma nuvem de mistérios, que resignifica nossa escala de valores e nos livra da importância de tantas “desimportâncias”. Não se trata também de misticismo porque não se intenta manipular mecanicamente o mundo espiritual, fazê-lo convergir aos nossos interesses - como se isso fosse possível. É uma vivência que nos põe de joelho, nos faz sentir pequenos, mas não apequenados, porque nos faz sentir integrado em pequenez com a imensidão do universo, num estado de harmonia com o cosmos.



Calma, não sou pai, não estou na iminência de ser, nem tenho esta pretensão no momento, até porque o instinto paterno ainda não se manifestou em mim. Mas nem por isso deixe de ficar comovido com o efeito metamorfoseador que a paternidade tem produzido num amigo, Humberto Lima de Aragão Neto.



Beto é o único amigo que conservo desde a época da infância. Sujeito sério, moderado no falar e no agir, cuidadoso e dedicado nos seus relacionamentos, leal nos seus compromissos, conservador nos seus hábitos e nos seus investimentos. Não pensa de si além do que é, tem consciência do seu estimado valor. É uma pessoa ética, responsável e competente naquilo que faz. Hoje ele é um publicitário pós-graduado de sucesso, atua no Cento Universitário São Camilo.



Todas essas características tem sido constante ao longo desse mais de quinze anos de caminhada amiga. Seu sucesso atual obtido, não sem muita dificuldade, é resultado dessa progressão continuada Mudanças ocorreram é claro, houveram atualizações, graças a Deus – lamento pelas pessoas que não se atualizam -, mas dentro de uma mesma linha, sem reviravoltas, desvios bruscos, giros de 180°. Ou seja, quem o conheceu há muito tempo e reencontrá-lo hoje, não vai ter aquela surpresa do tipo “nossa como você mudou”, “nem parece aquele menino”, vai sim constatar que o progresso que ele tem tido está ligado a sua disciplina metódica. Conforme já falei para ele, parece que desde criança ele tinha mais ou menos claro o que queria e desde então já traçava seu destino com parcimônia. Ciente dos recursos que tinha procurava otimizá-los ao máximo para potencializá-los, para fazer render mais. Este foi o caminho escolhido por ele.



Porém, paradoxalmente, o que me inspirou a escrever esse texto foi uma surpresa que tive com ele. Foi à revelação de uma face que eu não imaginava, a saber, de um “pai coruja”. Ele que, via de regra, sempre foi muito comedido, cauteloso nas expressões de afeto, desde que o nascimento do Arthur foi sinalizado foi tomado por uma paixão avassaladora, que aqueceu seu coração a tal ponto que suas afeições borbulham, irradiando energias positivas que contagiam o seu entorno. O seu semblante sério se enternurou refletindo o espírito lúdico que se atualizou nele.



É comovente ouvir o Beto falar com alegria entusiástica do “Arthurzinho” – como ele se refere ao rebento –, vê-lo brincar como uma criança, sem vergonha, com o rebento, pedir para ele falar no telefone comigo. Ver um amigo feliz é uma grande satisfação. E o Arthur, como fruto de amigos, de um casal que fui padrinho, já está arrolado no meu coração.



Peço a Deus que continue irradiando sabedoria aos Beto e a Patrícia para educar seu filho no caminho da virtude e da simplicidade do Evangelho de Jesus, para que o Arthur cresça um homem nobre e generoso - conforme o significado celta do seu nome – e honre o legado de sua estimada família.



Em breve chegará ao mundo mais um Arthur, filho de Damaris e Rafael, gente querida da caminhada, que mora no meu coração, de quem também fui padrinho de casamento. Já os avisto sinalizar essa mística contagiante.




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