terça-feira, 29 de junho de 2010

Opinião: Brasil x Chile e agora Holanda

Bastou uma simples alteração, a entrada de Ramires – diga-se de passagem, forçada, devida a contusão de Felipe Mello -, para a seleção ganhar em leveza, velocidade e mobilidade. Ramires jogou do jeito que se espera de um segundo volante e um pouco mais. Marcou um pouco mais adiantado, cobriu os avanços dos alas, deu rapidez na saída de bola do meio-campo para ataque, avançando por vezes como um meia atraindo a marcação da defesa adversária e abrindo espaço para os alas e os atacantes atacarem, além de servi-los. Para mim ficou claro mais uma vez que Ramires rende mais como segundo volante do que como meia.

É verdade que o Chile como se esperava não jogou na retranca, saiu pro jogo, abrindo espaço para o Brasil jogar. Até o Michel Bastos jogou além da medianidade. Mas, mesmo que jogasse na retranca é mais fácil furar o bloqueio com um jogador como Ramires – que também não é lá essas coisas - do que com Felipe Melo. Considero este um jogador esforçado, disciplinado taticamente, mas com escassa habilidade e capacidade de improviso. Basta o Gilberto Silva como volante de contenção, papel que tem representado bem, além do de terceiro zagueiro adiantado em alguns momentos das partidas.

Lúcio mais uma vez atuo como um craque da defesa que é: rápido e preciso na marcação, habilidoso na saída de bola e seguro nas bolas altas, além de ajudar no ataque nas bolas paradas buscando o cabeceio, e atraindo a marcação para outras cabecearem como no gol do Juan. Kaká mas uma vez compensou seu potencial de arranque reduzido, devido à contusão, com voluntarismo tático e precisão nas assistências, como no gol de Luís Fabiano.

Contra a Holanda o Brasil vai enfrentar novamente uma equipe que saí pro jogo, mas com o adicional de ser mais técnica que o Chile. O time holandês é rápido, habilidoso e que troca bem os passes. Muito bem organizado taticamente. É uma equipe onde os antigos pontas sobrevivem e são peças-chaves, o que deve dar bastante trabalho para o Maicon e o Michel Bastos.

Ramires que bem entrou, não estará devido à suspensão. Os possíveis substitutos, Felipe Melo, Elano e Julio Baptista ainda não se recuperaram das contusões, são dúvidas. Torço para o Elano poder jogar. Ele é um jogador que voluntarioso, que joga em função da equipe, taticamente muito importante. Caso contrário, eu ousaria. Como a Holanda é uma equipe que sai para o jogo, recuaria o Daniel Alves como segundo volante e o Robinho como meia-atacante e colocaria o Nilmar para fazer dupla de ataque com o Luís Fabiano.

Brasil e Holanda costumam proporcionar grandes espetáculos, jogos dramáticos, como o da semifinal de 1998, definido nos penaltys em favor do Brasil. É um jogo que qualquer que for o vencedor não será surpresa, a não ser que seja uma goleada. Torço para o Brasil, mas se apostasse, apostaria 50% em cada seleção.

O ser amado e a gratidão

Quem já viveu a experiência de ser amado por alguém que ama sabe que a resposta natural a essa conjugação de almas - às vezes também de corpos - é a gratidão. Veja bem, digo a experiência de ser amado, não de simplesmente ser desejado. Para ser desejado, basta saber seduzir, cativar a atenção e o desejo do público. Basta saber atrair sobre si a projeção das fantasias da platéia, e corporificar os objetos de desejo dela. É afrodisíaco, deixa a gente vaidoso, mas não gera em nós o sentimento de gratidão, que nos "põe de joelhos". Pelo contrário, reforça o nosso narcisismo, e faz com que a gente "se ache", pense de nós além do que convém, nos viciando a jogar pra torcida.

A gratidão por ser amado é natural e nos "põe de joelhos" perante Deus e a vida, porque instala em nós a confiança no valor que temos para nós e para os outros. À medida que essa confiança cresce em nós o desejo de poder, a necessidade de demonstrar força , de "causar" decresce. E o inverso é verdadeiro. À medida que decresce em nós a certeza de sermos amados cresce em nós o desejo de poder. Seja o poder positivo para demonstrar o nosso vigor, quanto o poder negativo, isto é, de resistência, para demonstrar que não somos inocentes e carentes ao ponto de não percebermos as segundas e terceiras intenções, o cálculo frio, por trás dos gestos de amor e de amizade, e nos entregarmos a qualquer sedução.

A gratidão, porém, é possível mesmo quando as circunstâncias não são favoráveis a sua expressão natural embalada de ternura. Quando a sensação de "ser amado" está embotada, e as memórias afetivas e festivas estão desconstruídas por um realismo sombrio. Quando a percepção da sagacidade, da simulação, do oportunismo do mundo que é mal, é levada mais em conta, do que a percepção dos sinais de graça, de generosidade e de beleza deste mesmo mundo, que a despeito da maldade humana que o faz ser o que é, não deixa de ser visitado pelo amor de Deus. Mais do que possível, a gratidão se faz necessária nessas circunstâncias.

Trata-se de uma questão de autodeterminação. Tem coisas que a gente primeiro precisa fazer, para depois sentir. Senão, a gente começa a se ressentir e vira presa fácil de ser dominada pela compulsão da revanche, de “dar o troco a mais” aos nossos detratores e traidores, de fazê-los “calar a boca” e nos “engolir”. Pessoas dominadas por essa compulsão comprometem sua capacidade de fluir e frui nas suas vitórias, de gozá-las, porque elas encaram suas conquistas como uma desforra, uma vingança. Seus corações não ficam pacificados, pelo contrário, eles ficam excitados a procura de um outro motivo para vingar e um outro alvo para se vingar. Não há trégua, eles querem mais guerra.

A gratidão nos liberta dos grilhões do ressentimento, da necessidade doentia de ter que provar para os outros o que somos - ou o que não somos -, porque nos habitua a reconhecer a graça e a misericórdia nas nossas vidas; a identificar que, mesmo nos pontos críticos das nossas existências, elas jamais faltaram - e basta um olhar mais acurado para perceber que jamais faltou quem nos fizeste o bem; e a perceber que o bem mesmo quando feito com intenções egoístas contribuiu para o nosso patrimônio. Mas a implicação maior de uma atitude grata é a possibilidade de transitarmos com liberdade na vida, sem revanchismo, sem pressão por “acerto de contas”, sem afetos a reprimir, porque ela atualiza nossa capacidade de amar e de ser amado – pois para ser amado é preciso saber amar –, ampliando nossa percepção de ser amado e desembotando nossos afetos para amar e receber amor.

Não se trata de negar o diabólico na vida, as sombras por trás das luzes, e se alienar num conformismo pseudo-satisfeito ou num romantismo piegas, numa atitude irrealista. Pelo contrário, a gente só amadurece, isto é, cresce de modo sustentável quando tem uma atitude realista perante a vida, o que implica reconhecer o mal, que há trevas, que demônios operam, alguns sob forma humana e outros sob forma de demônios. Mas a mesma atitude realista implica em reconhecer que é mais racional, econômico, rentável e saudável investir naqueles que torcem por nós do que naqueles que torcem contra nós. Que é mais lucrativo ocuparmos o nosso tempo com quem nos quer bem.

A mística da paternidade

Uma das experiências místicas que mais tem me tocado ultimamente é da paternidade. Digo mística porque é uma experiência transcendente para quem está aberto, se permite ser tocado e transformado por sua sublimidade. Uma experiência que faz ir além da materialidade da vida. E não se trata de ser arrebatado, entrar em transe, em êxtase, mas sim de ser permeado por um sentido existencial, de ser envolvido por uma nuvem de mistérios, que resignifica nossa escala de valores e nos livra da importância de tantas “desimportâncias”. Não se trata também de misticismo porque não se intenta manipular mecanicamente o mundo espiritual, fazê-lo convergir aos nossos interesses - como se isso fosse possível. É uma vivência que nos põe de joelho, nos faz sentir pequenos, mas não apequenados, porque nos faz sentir integrado em pequenez com a imensidão do universo, num estado de harmonia com o cosmos.



Calma, não sou pai, não estou na iminência de ser, nem tenho esta pretensão no momento, até porque o instinto paterno ainda não se manifestou em mim. Mas nem por isso deixe de ficar comovido com o efeito metamorfoseador que a paternidade tem produzido num amigo, Humberto Lima de Aragão Neto.



Beto é o único amigo que conservo desde a época da infância. Sujeito sério, moderado no falar e no agir, cuidadoso e dedicado nos seus relacionamentos, leal nos seus compromissos, conservador nos seus hábitos e nos seus investimentos. Não pensa de si além do que é, tem consciência do seu estimado valor. É uma pessoa ética, responsável e competente naquilo que faz. Hoje ele é um publicitário pós-graduado de sucesso, atua no Cento Universitário São Camilo.



Todas essas características tem sido constante ao longo desse mais de quinze anos de caminhada amiga. Seu sucesso atual obtido, não sem muita dificuldade, é resultado dessa progressão continuada Mudanças ocorreram é claro, houveram atualizações, graças a Deus – lamento pelas pessoas que não se atualizam -, mas dentro de uma mesma linha, sem reviravoltas, desvios bruscos, giros de 180°. Ou seja, quem o conheceu há muito tempo e reencontrá-lo hoje, não vai ter aquela surpresa do tipo “nossa como você mudou”, “nem parece aquele menino”, vai sim constatar que o progresso que ele tem tido está ligado a sua disciplina metódica. Conforme já falei para ele, parece que desde criança ele tinha mais ou menos claro o que queria e desde então já traçava seu destino com parcimônia. Ciente dos recursos que tinha procurava otimizá-los ao máximo para potencializá-los, para fazer render mais. Este foi o caminho escolhido por ele.



Porém, paradoxalmente, o que me inspirou a escrever esse texto foi uma surpresa que tive com ele. Foi à revelação de uma face que eu não imaginava, a saber, de um “pai coruja”. Ele que, via de regra, sempre foi muito comedido, cauteloso nas expressões de afeto, desde que o nascimento do Arthur foi sinalizado foi tomado por uma paixão avassaladora, que aqueceu seu coração a tal ponto que suas afeições borbulham, irradiando energias positivas que contagiam o seu entorno. O seu semblante sério se enternurou refletindo o espírito lúdico que se atualizou nele.



É comovente ouvir o Beto falar com alegria entusiástica do “Arthurzinho” – como ele se refere ao rebento –, vê-lo brincar como uma criança, sem vergonha, com o rebento, pedir para ele falar no telefone comigo. Ver um amigo feliz é uma grande satisfação. E o Arthur, como fruto de amigos, de um casal que fui padrinho, já está arrolado no meu coração.



Peço a Deus que continue irradiando sabedoria aos Beto e a Patrícia para educar seu filho no caminho da virtude e da simplicidade do Evangelho de Jesus, para que o Arthur cresça um homem nobre e generoso - conforme o significado celta do seu nome – e honre o legado de sua estimada família.



Em breve chegará ao mundo mais um Arthur, filho de Damaris e Rafael, gente querida da caminhada, que mora no meu coração, de quem também fui padrinho de casamento. Já os avisto sinalizar essa mística contagiante.




segunda-feira, 17 de maio de 2010

Seleção do Dunga

Ao se fazer uma seleção de emprego, empregado, de casamento, do presidente da República ou dos jogadores que representarão o Brasil na Copa do Mundo, um bom selecionador não deve guiar somente por critérios técnicos. Ele deve sempre levá-los em consideração, tê-los como fatores decisivos quando a situação exigir, considerando-se os riscos e os prazos dos objetivos, mas jamais deve absolutizá-los.

Critérios técnicos devem ser pesados assim como outros critérios, a saber, comprometimento, confiança, personalidade e experiência. E nenhum desses critérios devem ser absolutizados, inclusive a coerência do selecionador. Numa seleção todo critério deve ser analisado em relação ao todo que se tem ou ao todo que se quer atingir. Nenhum critério deve ser analisado isoladamente. Digo isso porque entendo que para criticarmos ou elogiarmos devidamente o Dunga, por sua convocação, devemos compreender os seus critérios e sua lógica.

Dunga não é o técnico que eu gostaria que estivesse comandando a seleção. Quando o Parreira saiu torci para que o técnico fosse o Paulo Autuori. Também não me encanta a forma como a seleção joga. Mas não tenho nenhum problema em reconhecer os méritos do Dunga e que ele tem sido bem sucedido. Faturou a Copa América, a Copa das Confederações e as Eliminatórias. Nesta última se classificou há três rodadas do final. Em suma, sob o comando de Dunga, a seleção principal conquistou todos os títulos que disputou.

Dunga foi exitoso, também, em revalorizar o preço de uma convocação para a seleção brasileira, especialmente para os considerados “cadeiras cativas”, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e Roberto Carlos. Mostrou que uma convocação não pode ser barateada para ninguém, mesmo para os ex-astros. Quando vi o Roberto Carlos, que foi considerado o símbolo do descomprometimento na última Copa - lembra dele ajeitando a meia no escanteio que resultou no gol da França contra o Brasil -, falando com aparente entusiasmo que queria ser convocado para a Copa, cheguei à conclusão que Dunga conseguiu tornar a seleção desejável para quem aparentemente não a desejava mais, por se achar bem mais desejável do que ela.

É lógico que essas conquistas pouco ou nada servirão de atenuantes se o Brasil fracassar na Copa. Pelo contrário, todas elas serão desvalorizadas. A era Lazaroni na seleção não é lembrada pela conquista da Copa América depois de 40 anos de jejum, mas pelo fiasco na Copa de 1990. A terceira passagem de Parreira na seleção não é lembrada pelas também conquistas da Copa América, Copa das Confederações e as Eliminatórias. Mesmo a memória do futebol exuberante apresentado na semifinal e na final da Copa das Confederações na Alemanha, em 1995, contra a anfitriã (3x2) e a Argentina (4x1), respectivamente, que despontou o autêntico “quadrado mágico”, formado Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Adriano e Robinho, não aquele formado na Copa – lembre-se que a dupla de ataque foi formada por Ronaldo e Adriano –, sofreu obnubilação pelo fracasso ocorrido no ano seguinte, na Copa.

É bem verdade que na ocasião, Parreira, ao contrário de Dunga, modificou o time que tinha encantado em 2005 na Alemanha. Não só no ataque, mas também nas laterais. Cicinho e Gilberto, titulares na conquista da Copa das Confederações, foram para a reserva de Cafu e Roberto Carlos, respectivamente. Na época, Cicinho, estava no auge de sua carreira. Curiosamente no melhor jogo do Brasil naquela Copa, contra o Japão (4x1), eles foram titulares.

Dunga, a princípio, manterá nas “quatro linhas” o time que o tem garantido até aqui, com uma ou outra alteração. Acredita nos jogadores que convocou e aposta nas recuperações daqueles que estão freqüentemente na reserva em seus clubes como, Doni, Julio Baptista, Felipe Mello e Kléberson. Tem convicção do que faz. Porém, é preciso ele ter consciência que a convicção é fundamental para acertar, mas ela não é garantia contra o erro. A gente erra sem e com convicção.

Entendo que Dunga deve, sim, ser grato aos jogadores que nos pontos críticos de sua jornada, quando seu cargo este por um fio, reverteram o quadro desfavorável, especialmente Robinho, Julio Baptista e Luís Fabiano, mais do que Kaká. Deve, sim, considerar a estabilidade do grupo. Mas deve, também, entender que a seleção não é propriedade sua, que ele é um funcionário que precisa mostrar resultados e seu objetivo maior é a conquista da Copa do Mundo. Se a Copa não vier, a estabilidade se converterá em instabilidade. A mútua gratidão se converterá em mútuas cobranças e mágoas. Ninguém se engane disso.

Para mim os jogadores que Dunga convocou têm condições e potenciais para conquistar o hexacampeonato para o Brasil. Se a equipe mantiver o seu estilo de jogo é a grande favorita. Se apostasse, apostaria a maior parte dos recursos nela. Todavia, entendo que Dunga poderia diminuir os riscos inevitáveis de fracasso, inclusive parte de sua responsabilidade por sua eventual ocorrência, se revisse algumas convocações e se acreditasse mais no rico potencial que já se converte em trabalho primoroso do que temesse a inexperiência. Poderia dosar melhor seus critérios.

Por exemplo, que não levasse Neymar, mas levasse Paulo Henrique Ganso. Ganso é uma espécie que parecia ter sido extinta. Um meia que lê o jogo, arma, lança e avança ao ataque. É mais do que um armador e mais do que um meia-atacante. Tem qualidades que o Kaká não tem. E já deu provas de maturidade. Nas finais do Paulista foi o ponto de desequilíbrio e de equilíbrio do Santos. De desequilíbrio ao marcar e dar assistência para gols. E de equilíbrio no último jogo da final, quando o Santos perdia o jogo e estava com um e depois com dois jogadores a menos que o Santo André, que dependia de apenas mais um gol para se sagrar campeão. Ganso cadenciou o jogo e prendeu a bola no ataque garantindo o título santista.

Se Kaká, o único jogador criativo do meio-de-campo se contundir quem irá criar? Se o Brasil estiver atrás no placar, precisando atacar, que mais do que ele tem potencial do que ele para desequilibrar ou dar uma assistência. O Brasil na era Dunga teve muitas dificuldades quando precisou tomar iniciativa. Lembremo-nos dos empates em casa contra a Argentina, Bolívia e Venezuela. A equipe se saiu melhor quando jogou no contra-ataque, esperando a iniciativa do adversário.

Convocaria um goleiro experiente para a reserva de Julio César. Numa eventual contusão dele, Gomes e Doni, reserva de Julio Sérgio na Roma, não me inspiram confiança. Se o Rogério Ceni estivesse disposto a ir a mais uma Copa como reserva seria meu escolhido. No lugar de Thiago Silva levaria Miranda e no de Luisão, levaria seu irmão, Alex Silva. Discordo dos dois laterais-esquerdo. Levaria André Santos, que se saiu bem na Copa das Confederações, e Marcelo no lugar de Gilberto e Michel Bastos, que joga na ala direita e meia no Lyon. Aliás, tenho curiosidade em saber por que Dunga não os convocou mais. Levaria também o Hernandes. Embora quando convocado, especialmente nas Olimpíadas, não tenha correspondido à grande expectativa que gerou, e mesmo no São Paulo já tenha atuado melhor é um jogador que já comprovou ter uma qualidade acima da média É um volante que marca e sai com desenvoltura para o jogo, ajudando na armação, é habilidoso, tem um bom passe, chuta bem de fora da área e tem boa mobilidade. Qualidades juntas que nenhum volante da seleção tem. Apostaria nele porque acho é demais na seleção Gilberto Silva, Josué Felipe Mello e Kléberson juntos. Levaria Hernanes e Ganso no lugar dos dois últimos.

Também acho demais Julio Baptista, Ramires e Elano juntos. Muita gente pela direita. Levaria Ronaldinho Gaúcho, embora ele esteja longe de ser o astro que um dia já foi. Jogando o que tem jogado está acima desses. É um jogador que eventualmente ainda manifesta lances de gênio. Num jogo truncado seria uma alternativa ainda com um alto potencial de desequilíbrio, uma individualidade a se sobressair. Levaria ele no lugar do Ramires.

Concordo com Dunga em não levar o Ronaldo nem o Roberto Carlos. Se o objetivo é renovar a seleção não faz sentido levá-los. Também concordo em não levar o Adriano. Além dos constantes atos de indisciplina e de falta de comprometimento no Flamengo, sua fase técnica não é boa. Somado a isso tem a memória da última Copa quando foi um fiasco.

Enfim, ganhar ou perder faz parte do jogo. O Brasil já ganhou e perdeu jogando bonito e feio, mas nunca ganhou jogando mal. Uma coisa é perder ciente de que escolheu e fez o melhor que tinha e podia. Outra bem diferente é perder e tomar consciência de não ter usufruído o melhor que tinha e podia. Espero que Dunga esteja ciente de que escolheu o melhor para vencer.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Jesus Universal, Cristo Cósmico

Paulo, o apóstolo, ensina que há gente que não sabe quem foi Adão e Eva, a história da Arca de Noé e do dilúvio, que Abraão é o pai da fé, que Deus abriu o mar vermelho, por intermédio de Moisés, na fuga dos hebreus do Egito, quais são os dez mandamentos e as leis cerimoniais, nem quem foram os profetas, muito menos o que eles falaram, ou seja, gente que embora não conheça a letra, conhece o espírito, da Revelação. “De fato, quando os gentios, que não têm a Lei, praticam naturalmente o que ela ordena, tornam-se lei para si mesmos, embora não possuam a Lei; pois mostram que as exigências da Lei estão gravadas em seu coração. Disso dão testemunho também a sua consciência e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os (Romanos 2.14,15, NVI)”.

Mas como essa gente veio a conhecer? Teria sido mediante uma prática meditativa, um sacrifício, um êxtase ou uma dedução filosófica? Pode ter sido por qualquer uma dessas formas ou por alguma outra forma escolhida por Deus para revelar a essência de sua mensagem, que transcende a todos os formatos teológicos e filosóficos, inclusive os fabricados pelo cristianismo. O certo é que gente que procurava a Deus - muitos sem ter consciência disto - que tateava para achá-Lo, não o encontrou, mas foi encontrado por Ele (Atos 17.16-31).

O mesmo Deus que permitiu que os povos andassem segundo suas inclinações culturais, suas tradições religiosas e filosóficas, e seus hábitos e suas superstições, não deixou de dar o seu testemunho (Atos 14.16,17). Ele deu seu testemunho na excelência da criação (Salmo 19) e na História. Assim como livrou os hebreus do Egito, libertou os filisteus de Caftor e os arameus sírios de Quir (Amós 9.7).

Tampouco deixou Deus de receber culto dos que o tinham como um Deus desconhecido (Atos 17.23). Àqueles que o adoravam conforme a letra, mas em espírito disforme, contrastou com os que o adoravam sem saber a letra, mas conforme o Espírito: “Ah, se um de vocês fechasse o templo! Assim ao menos não acenderiam o fogo do meu altar inutilmente. Não tenho prazer em vocês, diz o Senhor dos Exércitos, e não aceitarei as suas ofertas. Pois do oriente ao ocidente, grande é o meu nome entre as nações. Em toda parte incenso é queimado e ofertas puras são trazidas ao meu nome, porque grande é o meu nome entre as nações, diz o Senhor dos Exércitos (Malaquias 1.10,11)”.

Alguns alegam que a realidade descrita foi um fenômeno que se encerrou com vinda de Cristo. Que depois disto só pode ser salvo quem tiver conscientemente conhecido a Jesus Cristo, o recebido como o Salvador e sido batizado em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Estariam então condenados ao inferno milhões de pessoas que morrem sem ouvir falar de Jesus ou que ouviram somente as versões deturpadas Dele produzidas por algumas expressões do cristianismo? Ou será que as pessoas que morrem nessa condição, assim morrem por que não foram predestinadas para a salvação?

Creio que não! Aceitar a primeira hipótese seria limitar a ação do Espírito Santo ao alcance territorial missionário, à boa vontade dos cristãos de evangelizarem. Seria aceitar que os planos de Deus podem ser frustrados se a Igreja não adotar uma estratégia missionária eficaz.

Aceitar a segunda hipótese é incorrer numa visão reducionista e mecanicista da predestinação. É perceber Deus como se ele estivesse preso ao tempo. É afirmar que o NÃO de Deus é maior que o seu SIM, que sua ira é mais inclusiva do que sua graça.

Ora, Jesus é não um estepe que Deus colocou na roda da história porque a humanidade deixou furar o pneu. Jesus seria, então, na verdade um plano C, executado por Deus causa dos fracassos, do casal arquetípico – Adão e Eva –, em gerir o paraíso, e do povo hebreu em cumprir a Lei mosaica.

Creio, sim, que o Espírito sopra onde quer; que Ele não é delimitado por fronteiras religiosas, culturais, étnicas e políticas. Os magos do Oriente receberam a Revelação por intermédio de uma conjunção planetária (Mateus 2.1,2). Cornélio, chefe da guarda romana, um pagão, recebeu a Revelação através de anjo numa visão. A Revelação precedeu a informação. O Espírito foi assimilado antes do conhecimento da letra, trazido por Pedro (Atos 10). Fenômeno que tem se repetido ao longo da história (Leia “O Fator Melquisedeque”, de Don Richardson, Edições Vida Nova).

Creio, sim, que o Evangelho que é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê não é uma teoria, uma filosofia, uma ideologia, uma doutrina ou mesmo a Bíblia. O Evangelho é uma Pessoa, Jesus Cristo, que se revela espiritualmente, porque é o Salvador do mundo. Não passou a ser o Salvador depois que se encarnou, Ele sempre foi. O Cordeiro foi imolado antes da criação do mundo e é conhecido desde então (Apocalipse 13.8b; I Pedro 1.19, 20). Cristo era a rocha espiritual, da qual, os hebreus inconscientemente bebiam no deserto e que os acompanhava na travessia (I Coríntios 10.4). E que muita hoje tem bebido e caminhado ao lado, embora não tenha tido o conhecimento histórico de Jesus Cristo.

O Jesus que se revelou em carne e osso, como a imagem do Deus invisível, como expressão exata do ser de Deus, há mais de 2.000 anos, se revela espiritualmente como salvador desde que o mundo é mundo. E assim é, porque ele é sacerdote segundo a Ordem de Melquisedeque, não segundo a ordem de Judá, sua descendência física, porque era a tribo de Levi que tinha a exclusividade de fornecer sacerdotes, àqueles que intercediam pelo povo mediante o oferecimento de sacrifícios a Deus (Cf. Hebreus 7.14).

O sacerdócio de Jesus não está preso a uma linhagem sanguínea. Levi era filho de Jacó, o patriarca que teve 12 filhos dos quais originaram as 12 tribos hebraicas que, posteriormente, formaram o Reino de Israel; ou seja, os levitas podem ser rastreados na história. Já Melquisedeque, cujo nome significa “rei de justiça” e que era rei de Salém, que quer dizer “paz”, que era a antiga cidade de Jerusalém, não teve pai nem mãe, nem genealogia, nem princípio nem fim; isto é, seu dna não pode ser decodificado, todavia, feito semelhante ao Filho de Deus, é sacerdote desde a fundação do mundo e por toda a eternidade (cf, Hebreus 7.1-3).

Este Melquisedeque centenas de anos antes de Levi nascer foi ao encontro de Abraão com pão e vinho – alguma semelhança com o corpo e o sangue de Cristo? - e o abençoou, recebendo dele o dízimo (Gênesis 14.18). O autor da carta aos hebreus afirma: “Sem dúvida alguma, o inferior é abençoado pelo superior. No primeiro caso [sacerdócio levítico] quem recebe o dízimo são homens mortais; no outro caso [sacerdócio de Melquisedeque] é aquele de quem se declara que vive”. (Hebreus 7.7-8, colchetes meu). É por isso que Abraão nascido há milênios antes de Cristo o viu e se alegrou (Cf. João 8.56).

Sim, conhecer a letra é um privilégio. Ter a Revelação explícita, codificada, tornada Escritura, é uma bênção. Mas só será uma vantagem diante daqueles que a tiveram de forma enigmática, subentendida, nas entrelinhas, se a Escritura se tornar Palavra de Deus, se nos apropriarmos dela como fonte de conhecimento espiritual, se a lermos além da letra, se não desprezarmos o Espírito. Caso contrário, não há vantagem alguma, mas há, sim, um juízo especial: “A quem muito foi dado muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido Luca

terça-feira, 16 de março de 2010

Jesus nome sem poder

Para orarmos o “Pai Nosso” conforme Jesus ensinou aos seus discípulos, e não deformarmos o modelo de oração numa reza ou numa petição evangélica-pagã é preciso ter consciência de que o Pai não é meu ou seu, o Pai é nosso. E por ser nosso, Ele não intervém em favor de caprichos pessoais, de vaidades individuais, para saciar egos feridos ainda que o pedido seja feito em nome de Jesus. Mesmo porque, não há nenhum poder, nenhuma magia no nome de Jesus.

Historicamente o nome de Jesus – forma grega de Josué -, na cultura judaica da época, era tão comum como é na nossa cultura, José, João, Antonio. Em alguns manuscritos Jesus é o prenome de Barrabás, o ladrão que a multidão pediu que fosse solto em detrimento de Jesus: "A quem quereis que eu vos solte, a Jesus Barrabás ou a Jesus, chamado Cristo?", perguntou Pilatos. O escritor romano do século I, Flávio Josefo, se refere à cerca de 20 pessoas com o nome de Jesus.

Não há nada de exótico, chique ou cabalístico no nome de Jesus. Por isso, o poder não está no nome, o poder está na pessoa de Jesus, o Deus encarnado, o Verbo que virou gente e habitou entre nós, e ensinou que o Pai é nosso. Se o Pai é nosso porque alguém deveria achar que Ele deveria lhe favorecer no vestibular, num concurso público, numa seleção e numa promoção de emprego, se os seus concorrentes também são filhos Dele? Oraria eu no espírito do Evangelho reivindicando a fidelidade de Deus para pedir-Lhe em nome de Jesus carro zero e casa própria se a maioria das pessoas é transportada que nem gado nos transportes públicos, mora de aluguel e às vezes nem um teto tem para morar?

Se o Pai é nosso poderia não ser considerado pagão pedir a Deus que manipule resultados de futebol e da mega-sena? E como não poderia ser uma blasfêmia a oração do deputado distrital, Rubens César Brunelli, do PSC (Partido Social Cristão), que agradece a Deus pelo dinheiro da propina e pelo chefe do esquema, Durval Barbosa, então secretário de Relações Institucionais do governo do Distrito Federal, exonerado após a divulgação dos vídeos que o flagram comandando o esquema, a quem Brunelli atribui ser um instrumento de Deus? Ora se Durval é um instrumento de Deus significa então dizer que Deus é o instrumentista do esquema. A não ser que se considere que o dinheiro sujo é santificado quando empregado em esquemas religiosos em nome de Jesus. (http://www.youtube.com/watch?v=xuaRqvzX5jY)

Sim, é motivo de agradecimento a Deus passar no vestibular, conseguir um emprego, uma promoção, comprar uma casa, um carro, um sítio, um apartamento na praia etc., quando a conquista é fruto do nosso trabalho, não da nossa esperteza, abençoado por Deus. Mas se o Pai é nosso essas conquistas só serão bênçãos se elas canais de bênçãos para outras vidas, instrumentos de generosidade e fraternidade, porque esse é o propósito de Deus ao permitir uma colheita abundante de nossas sementes. Conforme diz Paulo, o apóstolo: “Aquele que supre a semente ao que semeia e o pão ao que come, também lhes suprirá e multiplicará a semente e fará crescer os frutos da sua justiça. Vocês serão enriquecidos de todas as formas, para que possam ser generosos em qualquer ocasião, e por nosso intermédio, a sua generosidade resulte em ação de graças a Deus”. (2º Coríntios 9.10-11).

Prosperidade financeira não é promessa de Deus para vida de seus filhos. Se assim não fora Jesus não teria dito que felizes são os pobres e que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus. Mas como a salvação não é uma possibilidade humana, mas um milagre divino ser próspero materialmente não será pecado, se o Pai Nosso e não o pai Mamon for o Senhor do próspero. E se o Senhor for o Pai Nosso o próspero terá consciência de que ele tem uma responsabilidade maior em promover o bem-estar das pessoas: “A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido”. (Lucas 12.48b).

Entretanto, apesar da responsabilidade maior seja dos que mais têm, todos são chamados a generosidade, porque Deus faz frutificar a semente de todos que buscam sabedoria para o plantio. Deus dá com boa vontade e liberalidade sabedoria a todos que pedirem (cf. Tiago 1.5), para que possam render ao máximo suas potencialidades e ganharem mais potências para convertê-las em mais trabalho, isto é, em mais frutos. (cf. parábola dos talentos, Mateus 25.14-30). Multiplicando, assim, a colheita para nós dividirmos, mesmo porque não conseguimos nada apenas com o nosso suor do nosso trabalho, mas também com o dos outros.

A generosidade mais freqüente entre os mais pobres mostra que eles têm mais consciência de que o Pai é Nosso, porque costumam dividir o pouco que tem sem medo de atolarem na pobreza, de ficarem desamparados. E assim fazem porque a prática lhes mostrou que o necessário não falta a quem é generoso, simplesmente porque o Pai é Nosso, não só meu, seu, dele ou dela.

Quem não tem essa consciência se entorpece na sua riqueza ou se atola na sua pobreza, se frustrando nas suas petições não atendidas, porque não pedem o Pão Nosso para o Pai Nosso, mas pedem, psicanaliticamente falando, pênis e vagina. Conforme denuncia Tiago: “Vocês cobiçam coisas, e não as têm; matam e invejam, mas não conseguem obter o que desejam. Vocês vivem a lutar e a fazer guerras. Não tem, porque não pedem. Quando pedem, não recebem, porque pedem por motivos errados, para gastar em seus prazeres”. (Tiago 4.2-3)

Evangélicos-pagãos podem pedir fama, poder e gloria pessoal em nome de Jesus, mas precisam saber que a pessoa de Jesus nunca prometeu, e que o único que prometeu foi aquele que disse a Jesus que daria tudo isso se ele prostrado o adorasse, a saber, o diabo, ou seja, o pai da mentira. Quem tem ouvidos para ouvir ouça.

Lula, Cuba e os Direitos Humanos

A bajulação dos companheiros Lula, Franklin Martins e Marco Aurélio Garcia aos irmãos Castro, os ditadores cubanos, Fidel e Raul, e o descaso com a morte do pedreiro Orlando Zapata, prisioneiro político cubano, condenado a 25 de prisão por se opor regime, que veio a falecer após 85 dias de greve, ilustra a política de dois pesos e duas medidas, de grande parte da esquerda latina americana, em relação aos direitos humanos e à democracia. Descaso que já havia se manifestado em 2003 com o fuzilamento de três dissidentes políticos e em 2007, quando o governo Lula entregou gentilmente através do despacho de Tarso Genro, os boxeadores cubanos que tinham se refugiado no Brasil após os jogos Pan-Americanos do Rio. Gentileza que ele não que prestar ao governo italiano entregando Cesare Battisti. Por uma razão clara, quando os assassinatos e seqüestros são feitos em nome da revolução vermelha eles são coroados de honra.

Há um ano quando o publisher da Folha de São Paulo, Otávio Frias Filho, publicou um editorial infeliz no qual chamou o regime militar brasileiro de “ditabranda”, embora tenha assim adjetivado em comparação com as ditaduras socialistas, a esquerda entrou em chilique, teve ataques histriônicos. Capitaneada por seus gurus, Maria Vitória Benevides, Fábio Konder Comparato e Antonio Cândido, fizeram barulho na mídia evacuando seus surtos de indignação. Reação compreensível já que para quem tomou soco na cara, no estômago, sofreu afogamento e estupro, ou teve um ente querido morto pouco importa se o caso foi um entre 300 ou um entre 300.000. A vida foi violada na sua dignidade, de forma covarde. Chamar de “ditabranda” o regime que provocou isso, mesmo que não tenha sido esta a intenção, soou como uma relativização ao sofrimento alheio, um desrespeito a sua sensibilidade.

Agora, o que não é compreensível é que não tenham tido surtos de indignação com o assessor especial da presidência, Marco Aurélio Garcia, que minimizou a morte de Zapata e se esquivou de denunciar a violação dos direitos humanos em Cuba, o que dizendo que há problemas de direitos humanos em todo mundo. Como não deduzir que suas palavras pedem a resignação dos dissidentes cubanos e dos opositores da ditadura castrista aos a violação dos direitos humanos na ilha. Por que, então, para ser coerente não manda seus camaradas de esquerda parar de protestar contra as torturas perpetradas pelo governo estadunidense nos prisioneiros da Base de Guantánamo em Cuba, já que há problemas de direitos humanos em todo mundo, inclusive na maior democracia? Cadê o protesto de Marilena Chauí, Emir Sader e Chico Buarque, dessa gente tão “sensível” aos direitos humanos?

Quando o então presidente hondurenho, Manuel Zelaya, foi deposto pelos militares, legitimados pela Constituição, porque começou a “arregaçar as mangas” para fazer sua “aventura bolivariana” à moda de Chávez e Morales, e se prolongar no poder, a mesma esquerda se levantou em protesto contra a violação da ordem democrática. A mesma ordem democrática que Fidel derrubou há 51 anos, e Chávez derruba gradualmente há 12 com a cumplicidade dela. O governo brasileiro, inclusive, hospedou o golpista na embaixada brasileira, que serviu de base a turma de Zelaya maquinar suas, felizmente, frustradas tentativas de retomar o poder.

Lula não reconhece até hoje a eleição democrática de Porfírio Lobo sob o pretexto de não estimular novos golpes a ordem democrática, como se fosse os militares hondurenhos e não Zelaya, seu camarada, o golpista. Por que Lula não aplica em Honduras aquilo que disse ter aprendido, quando indagado sobre seu silencio sobre as violações aos direitos humanos em Cuba, que não se deve “dar palpitas em outros países”? Por que ele só aplica isso em relação à Cuba, Venezuela e Irã e não em relação à Honduras, aos Estados Unidos e à Israel?

Ora, a razão é simples. Assim como a elite econômica brasileira, em sua maioria, apenas tolera Lula e o PT, mas tendo uma oportunidade de mandá-los não hesitará, apesar de ter sido muito bem tratada por ele, semelhantemente é a esquerda latina-americana, em sua maioria, em relação à democracia. Ela apenas tolera a democracia. Suporta conviver na democracia enquanto não tem crédito popular e condições concretas para destruí-la. Seu instinto autoritário não foi modificado, está contido. Manifesta-se periodicamente de forma sutil através de flertes sinuosos tipo, Conselho Nacional de Jornalismo e Programa Nacional de Direitos Humanos, para ver a reação do público, e saber se avança, recua ou disfarça. O máximo de democracia que um esquerdista revolucionário tolera é intrapartidária. Para quê democracia num governo que encarnaria a vontade do povo? Liberdade para expressar opinião contrária ao povo, que a história os vocacionou como os legítimos representantes?

O perigo maior, porém não está em Lula, esse é um carreirista, um camaleão. Um esquerdista autêntico, em privado, reconhece isso. O perigo está na esquerda ideológica e ressentida, viúva de Marx, que tem fantasias eróticas com Lênin, Trotsky e Che Guevara, que ficou em segundo plano em seu governo e agora vê na eleição de Dilma Roussef a possibilidade de sair da periferia para o centro do poder, de fazer a sua desforra, de saciar seus desejos burgueses recalcados. Que tem olhos para ver enxergue.