terça-feira, 16 de março de 2010

Jesus nome sem poder

Para orarmos o “Pai Nosso” conforme Jesus ensinou aos seus discípulos, e não deformarmos o modelo de oração numa reza ou numa petição evangélica-pagã é preciso ter consciência de que o Pai não é meu ou seu, o Pai é nosso. E por ser nosso, Ele não intervém em favor de caprichos pessoais, de vaidades individuais, para saciar egos feridos ainda que o pedido seja feito em nome de Jesus. Mesmo porque, não há nenhum poder, nenhuma magia no nome de Jesus.

Historicamente o nome de Jesus – forma grega de Josué -, na cultura judaica da época, era tão comum como é na nossa cultura, José, João, Antonio. Em alguns manuscritos Jesus é o prenome de Barrabás, o ladrão que a multidão pediu que fosse solto em detrimento de Jesus: "A quem quereis que eu vos solte, a Jesus Barrabás ou a Jesus, chamado Cristo?", perguntou Pilatos. O escritor romano do século I, Flávio Josefo, se refere à cerca de 20 pessoas com o nome de Jesus.

Não há nada de exótico, chique ou cabalístico no nome de Jesus. Por isso, o poder não está no nome, o poder está na pessoa de Jesus, o Deus encarnado, o Verbo que virou gente e habitou entre nós, e ensinou que o Pai é nosso. Se o Pai é nosso porque alguém deveria achar que Ele deveria lhe favorecer no vestibular, num concurso público, numa seleção e numa promoção de emprego, se os seus concorrentes também são filhos Dele? Oraria eu no espírito do Evangelho reivindicando a fidelidade de Deus para pedir-Lhe em nome de Jesus carro zero e casa própria se a maioria das pessoas é transportada que nem gado nos transportes públicos, mora de aluguel e às vezes nem um teto tem para morar?

Se o Pai é nosso poderia não ser considerado pagão pedir a Deus que manipule resultados de futebol e da mega-sena? E como não poderia ser uma blasfêmia a oração do deputado distrital, Rubens César Brunelli, do PSC (Partido Social Cristão), que agradece a Deus pelo dinheiro da propina e pelo chefe do esquema, Durval Barbosa, então secretário de Relações Institucionais do governo do Distrito Federal, exonerado após a divulgação dos vídeos que o flagram comandando o esquema, a quem Brunelli atribui ser um instrumento de Deus? Ora se Durval é um instrumento de Deus significa então dizer que Deus é o instrumentista do esquema. A não ser que se considere que o dinheiro sujo é santificado quando empregado em esquemas religiosos em nome de Jesus. (http://www.youtube.com/watch?v=xuaRqvzX5jY)

Sim, é motivo de agradecimento a Deus passar no vestibular, conseguir um emprego, uma promoção, comprar uma casa, um carro, um sítio, um apartamento na praia etc., quando a conquista é fruto do nosso trabalho, não da nossa esperteza, abençoado por Deus. Mas se o Pai é nosso essas conquistas só serão bênçãos se elas canais de bênçãos para outras vidas, instrumentos de generosidade e fraternidade, porque esse é o propósito de Deus ao permitir uma colheita abundante de nossas sementes. Conforme diz Paulo, o apóstolo: “Aquele que supre a semente ao que semeia e o pão ao que come, também lhes suprirá e multiplicará a semente e fará crescer os frutos da sua justiça. Vocês serão enriquecidos de todas as formas, para que possam ser generosos em qualquer ocasião, e por nosso intermédio, a sua generosidade resulte em ação de graças a Deus”. (2º Coríntios 9.10-11).

Prosperidade financeira não é promessa de Deus para vida de seus filhos. Se assim não fora Jesus não teria dito que felizes são os pobres e que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus. Mas como a salvação não é uma possibilidade humana, mas um milagre divino ser próspero materialmente não será pecado, se o Pai Nosso e não o pai Mamon for o Senhor do próspero. E se o Senhor for o Pai Nosso o próspero terá consciência de que ele tem uma responsabilidade maior em promover o bem-estar das pessoas: “A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido”. (Lucas 12.48b).

Entretanto, apesar da responsabilidade maior seja dos que mais têm, todos são chamados a generosidade, porque Deus faz frutificar a semente de todos que buscam sabedoria para o plantio. Deus dá com boa vontade e liberalidade sabedoria a todos que pedirem (cf. Tiago 1.5), para que possam render ao máximo suas potencialidades e ganharem mais potências para convertê-las em mais trabalho, isto é, em mais frutos. (cf. parábola dos talentos, Mateus 25.14-30). Multiplicando, assim, a colheita para nós dividirmos, mesmo porque não conseguimos nada apenas com o nosso suor do nosso trabalho, mas também com o dos outros.

A generosidade mais freqüente entre os mais pobres mostra que eles têm mais consciência de que o Pai é Nosso, porque costumam dividir o pouco que tem sem medo de atolarem na pobreza, de ficarem desamparados. E assim fazem porque a prática lhes mostrou que o necessário não falta a quem é generoso, simplesmente porque o Pai é Nosso, não só meu, seu, dele ou dela.

Quem não tem essa consciência se entorpece na sua riqueza ou se atola na sua pobreza, se frustrando nas suas petições não atendidas, porque não pedem o Pão Nosso para o Pai Nosso, mas pedem, psicanaliticamente falando, pênis e vagina. Conforme denuncia Tiago: “Vocês cobiçam coisas, e não as têm; matam e invejam, mas não conseguem obter o que desejam. Vocês vivem a lutar e a fazer guerras. Não tem, porque não pedem. Quando pedem, não recebem, porque pedem por motivos errados, para gastar em seus prazeres”. (Tiago 4.2-3)

Evangélicos-pagãos podem pedir fama, poder e gloria pessoal em nome de Jesus, mas precisam saber que a pessoa de Jesus nunca prometeu, e que o único que prometeu foi aquele que disse a Jesus que daria tudo isso se ele prostrado o adorasse, a saber, o diabo, ou seja, o pai da mentira. Quem tem ouvidos para ouvir ouça.

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