terça-feira, 16 de março de 2010

Lula, Cuba e os Direitos Humanos

A bajulação dos companheiros Lula, Franklin Martins e Marco Aurélio Garcia aos irmãos Castro, os ditadores cubanos, Fidel e Raul, e o descaso com a morte do pedreiro Orlando Zapata, prisioneiro político cubano, condenado a 25 de prisão por se opor regime, que veio a falecer após 85 dias de greve, ilustra a política de dois pesos e duas medidas, de grande parte da esquerda latina americana, em relação aos direitos humanos e à democracia. Descaso que já havia se manifestado em 2003 com o fuzilamento de três dissidentes políticos e em 2007, quando o governo Lula entregou gentilmente através do despacho de Tarso Genro, os boxeadores cubanos que tinham se refugiado no Brasil após os jogos Pan-Americanos do Rio. Gentileza que ele não que prestar ao governo italiano entregando Cesare Battisti. Por uma razão clara, quando os assassinatos e seqüestros são feitos em nome da revolução vermelha eles são coroados de honra.

Há um ano quando o publisher da Folha de São Paulo, Otávio Frias Filho, publicou um editorial infeliz no qual chamou o regime militar brasileiro de “ditabranda”, embora tenha assim adjetivado em comparação com as ditaduras socialistas, a esquerda entrou em chilique, teve ataques histriônicos. Capitaneada por seus gurus, Maria Vitória Benevides, Fábio Konder Comparato e Antonio Cândido, fizeram barulho na mídia evacuando seus surtos de indignação. Reação compreensível já que para quem tomou soco na cara, no estômago, sofreu afogamento e estupro, ou teve um ente querido morto pouco importa se o caso foi um entre 300 ou um entre 300.000. A vida foi violada na sua dignidade, de forma covarde. Chamar de “ditabranda” o regime que provocou isso, mesmo que não tenha sido esta a intenção, soou como uma relativização ao sofrimento alheio, um desrespeito a sua sensibilidade.

Agora, o que não é compreensível é que não tenham tido surtos de indignação com o assessor especial da presidência, Marco Aurélio Garcia, que minimizou a morte de Zapata e se esquivou de denunciar a violação dos direitos humanos em Cuba, o que dizendo que há problemas de direitos humanos em todo mundo. Como não deduzir que suas palavras pedem a resignação dos dissidentes cubanos e dos opositores da ditadura castrista aos a violação dos direitos humanos na ilha. Por que, então, para ser coerente não manda seus camaradas de esquerda parar de protestar contra as torturas perpetradas pelo governo estadunidense nos prisioneiros da Base de Guantánamo em Cuba, já que há problemas de direitos humanos em todo mundo, inclusive na maior democracia? Cadê o protesto de Marilena Chauí, Emir Sader e Chico Buarque, dessa gente tão “sensível” aos direitos humanos?

Quando o então presidente hondurenho, Manuel Zelaya, foi deposto pelos militares, legitimados pela Constituição, porque começou a “arregaçar as mangas” para fazer sua “aventura bolivariana” à moda de Chávez e Morales, e se prolongar no poder, a mesma esquerda se levantou em protesto contra a violação da ordem democrática. A mesma ordem democrática que Fidel derrubou há 51 anos, e Chávez derruba gradualmente há 12 com a cumplicidade dela. O governo brasileiro, inclusive, hospedou o golpista na embaixada brasileira, que serviu de base a turma de Zelaya maquinar suas, felizmente, frustradas tentativas de retomar o poder.

Lula não reconhece até hoje a eleição democrática de Porfírio Lobo sob o pretexto de não estimular novos golpes a ordem democrática, como se fosse os militares hondurenhos e não Zelaya, seu camarada, o golpista. Por que Lula não aplica em Honduras aquilo que disse ter aprendido, quando indagado sobre seu silencio sobre as violações aos direitos humanos em Cuba, que não se deve “dar palpitas em outros países”? Por que ele só aplica isso em relação à Cuba, Venezuela e Irã e não em relação à Honduras, aos Estados Unidos e à Israel?

Ora, a razão é simples. Assim como a elite econômica brasileira, em sua maioria, apenas tolera Lula e o PT, mas tendo uma oportunidade de mandá-los não hesitará, apesar de ter sido muito bem tratada por ele, semelhantemente é a esquerda latina-americana, em sua maioria, em relação à democracia. Ela apenas tolera a democracia. Suporta conviver na democracia enquanto não tem crédito popular e condições concretas para destruí-la. Seu instinto autoritário não foi modificado, está contido. Manifesta-se periodicamente de forma sutil através de flertes sinuosos tipo, Conselho Nacional de Jornalismo e Programa Nacional de Direitos Humanos, para ver a reação do público, e saber se avança, recua ou disfarça. O máximo de democracia que um esquerdista revolucionário tolera é intrapartidária. Para quê democracia num governo que encarnaria a vontade do povo? Liberdade para expressar opinião contrária ao povo, que a história os vocacionou como os legítimos representantes?

O perigo maior, porém não está em Lula, esse é um carreirista, um camaleão. Um esquerdista autêntico, em privado, reconhece isso. O perigo está na esquerda ideológica e ressentida, viúva de Marx, que tem fantasias eróticas com Lênin, Trotsky e Che Guevara, que ficou em segundo plano em seu governo e agora vê na eleição de Dilma Roussef a possibilidade de sair da periferia para o centro do poder, de fazer a sua desforra, de saciar seus desejos burgueses recalcados. Que tem olhos para ver enxergue.

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