sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Amar é desapegar

Sim, é preciso ser amado para amar - pois é difícil dar o que pouco ou nada recebeu. Receber afeto compassivo, não possessivo, e sinais de confiança e reconhecimento, para nos assegurarmos que somos amados, termos uma autoestima elevada, não um ego inflado, respondermos com gratidão a vida e protagonizarmos uma história afirmativa - que também é uma história que diz NÃO.

Mas para evoluirmos na capacidade de amar é preciso aprender a nos desapegar, inclusive de quem acreditamos que amamos, para saborearmos o fruto do amor, a saber, a liberdade. Amor e apego costumam ser confundidos, porque o desejo de amar e o desejo de ganhar, isto é, o desejo de poder, travam uma disputa acirrada pela posse do nosso coração, com fortes seqüelas para nossa alma, quando não agimos pela fé. E quando não agimos pela fé, agimos movidos por nossas carências e pelas nossas taras, sabotando o caminho da liberdade em nós ou obstruindo o do outro.

Muita gente regride no amor ao se escravizar no seu apego tirano. Quando se apega ao outro para projetar seus sonhos frustrados. Quando quer porque quer que ele represente a personagem de sua estória, de suas fantasias, das mais infantis às mais perversas, ou seja, quer que ele satisfaça os desejos do seu coração. Quando se acha no direito de mandar no destino do outro, esquecendo que cada um tem um chamado pra vida, que o caminho do outro não é o mesmo que o seu. E mesmo quando os caminhos se cruzam e recruzam nas estradas e nas estações da vida, é preciso entender a marcha que cada um está, para saber se é possível ou viável acompanhar a velocidade do outro.

Outros tantos regridem no amor não porque se inflam em sua tirania, mas porque se aprisionam na condição de vítima. Digo que se aprisionam e não que são aprisionadas, porque consciente ou inconscientemente as pessoas nessa condição é que acabam permitindo que o outro o outro explore suas carências em troca de migalhas, de esmolas afetivas. Preferem se aprisionar no autoengano, em expectativas ilusórias geradas pelas suas carências e pelas falácias do tirano do seu coração, do que assumir o risco da liberdade, sem o qual jamais assumirá o protagonismo de sua história. Acham que poderão conquistar o amor do outro alienando sua vida, fazendo tudo o que o agrada, quando na verdade estão cada vez mais se depreciando para o outro, ao se tornarem fáceis demais, barateiam o seu valor para ele.

Pouco ou nenhum valor é dado àquilo que vem barato demais, porque a gente geralmente ama – na esfera sentimental - quem a gente admira, conquista ou é conquistado pelo valor de sua alma, pela consciência de ela é permeável, sintetiza e atualiza com a nossa. E com quem a gente consegue estabelecer uma relação simbólica mutuamente lucrativa.

Aspiramos à liberdade e evoluímos na capacidade de amar quando aprendemos que uma experiência de amor só pode acontecer, quando as partes se achegam com a posse do que se tem para se dividir sem temer se perder de si mesmo, mas com fé que esta divisão multiplicará nelas células geradoras de vida.

Só é saudável caminhar junto quando há consciência e disponibilidade de ambas as partes para se atualizarem na jornada, para se adaptarem às suas mutações pessoais e coletivas, e para semearem e fertilizarem os solos dos seus territórios sagrados.

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