sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Vontade de amar, vontade de ganhar

Tenho percebido cada vez no trato e no tatear da alma humana como a vontade de ganhar é confundida com a vontade de amar. Confusão que tem sua razão de ser, pois somos movidos e confrontados em nosso ser por forças contraditórias que emanam das profundezas da nossa alma e disputam à hegemonia no nosso coração.

Por um lado precisamos ser amados para ser potencializada nossa capacidade de amar e darmos amor com a qualidade e a sabedoria que possibilite rendimentos afetivos duradouros, que nos faça entrar num círculo virtuoso. Todavia, amar é um investimento arriscado quando o indivíduo diante da expectativa ou do desejo de altos e duradouros lucros investe uma quantia elevada de seu capital emocional numa única ação, pondo em risco a estabilidade (?) de seu patrimônio. Isto por uma razão simples, nada garante que um amor será correspondido e mesmo se a princípio for não há como garantir que esse amor será para sempre uma sociedade lucrativa, que sobreviverá às oscilações da economia das emoções.

Por outro lado, um dos maiores desejos do ser humano é ser desejado. É para ser desejado é preciso mostrar poder. E poder tem a ver com força, atração, sedução e masturbação. O Dinheiro é um atrativo poderoso e um potente conversor de imagens. No jogo das fantasias e das projeções de complexos de inferioridade travestidos de idéias onipotentes, manias e delírios de grandezas que envolvem as relações humanas, o dinheiro é capaz de revestir uma pessoa pobre financeira, cultural e espiritualmente com uma persona (máscara) sedutora tornando-a um objeto de desejo. Mesmo quando não consegue essa proeza, o dinheiro pode proporcionar momentos de deleite e de prazer, ou pelo menos de dar conforto material para o sujeito embebecido de sua vaidade amargar os efeitos nauseantes e dilacerantes de suas ilusões e alucinações, e de seu auto-engano.

Entretanto o dinheiro não é o único nem um fator indispensável para a vontade se apossar do desejo de poder e capitalizar com ele. A sensualidade é um fator capaz de cativar corpos e alma, mesmo que não venha acompanhada de recursos financeiros. Ela, inclusive, frequentemente consegue atrair capitais valiosos. Quem não conhece alguém que é prisioneiro sexual de uma pessoa ou de um tipo de pessoa, como o cafajeste.

Aquela mulher, por exemplo, que continuamente reclama de seu parceiro, acusa-o de insensível, irresponsável e cafajeste, e que tem estampada em sua face o sofrimento, mas não consegue ou não quer romper a relação – a despeito de suas ameaças -, porque está cativa de corpo e alma ao poder da sensualidade dele. Ou aquela outra que vive lamuriando contra os homens, lamentando a má-sorte de ter sido várias vezes vítima (?) de golpes do sedutor cafajeste, de ter sido ludibriada por beijos cálidos, palavra doces, juras de amor, sussuros excitantes e “pegadas firmes”. Até que um dia ele encontra um homem decente, romântico, trabalhador sensível, que a valoriza como mulher, e que até tem uma performance sexual satisfatória. No princípio ela se encanta, se entrega na paixão, fantasia que encontrou o amor de sua vida, mas com o decorrer do tempo ela inconscientemente começa sabotar a sua possibilidade de ser feliz. Como a sua alma foi condicionada a uma relação de dominação e essa relação a convida para a liberdade, ela começa a temer assumir sua própria existência, e pede para ser dominada. E conforme não é atendida se revolta, começa a ficar com saudade de um cafajeste até ir ou pedir para um desses vir ao seu encontro.

Além do dinheiro e da sensualidade, a cultura é também um fator de poder. O sujeito que dispõe de um capital vasto de conhecimento e consegue traduzi-lo num eficiente e criativo instrumento de mediação e persuasão, e expressá-lo numa linguagem sedutora, traz para si a projeção de imagens sedutoras de poder, isto é, de força, de desejo, e capitaliza alto com o efeito disso, à medida que consegue dominar a consciência das pessoas e controlar suas sensibilidades. Isto é possível mesmo que ele não disponha de grandes recursos financeiros.

Diante dessas forças contraditórias que se alimentam das carências, dos vícios e medos, a alma se angustia e a consciência se perturba e se confunde. A vontade de amar é limitada quando não sabotada pela vontade de ganhar ou pelo medo de perder. O medo de perder capital numa ação específica, de perder patrimônio e contrair dívidas, alimentado por outros investimentos frustrados abalam a crença certeira de que o amor é o investimento mais rentável, mesmo que não haja garantia de lucro em todas as ações, que às vezes, inclusive, acarretam muito prejuízo.

A demonstração de poder recebe pagamento a vista, consegue lucro alto e rápido, torna o demonstrador desejado, e facilita o caminho para a realização de sonhos e fantasias, alimentando a vontade ganhar. Todavia, o lucro despenca e vai embora com a mesma rapidez que chegou à medida que a manutenção do brilho da personagem requerer o ocultamento da sua pessoalidade, a subordinação do ser ao ter, e a limitação à superficialidade das relações,

E como não é possível amar ficando apenas na superfície e sem tirar apetrechos da fantasia, o poder até para poder mais não tem outra solução que não seja se submeter ao amor, caso deseje investir num fundo rentável, e não simplesmente especular na bolsa.

Não se trata de renunciar o poder, porque se é verdade que só é possível amar seres reais, com suas luzes e sombras, suas virtudes entremeadas por seus vícios, e não ídolos e objetos idealizados, também é verdade que a gente ama quem a gente deseja, isto é, quem mostra poder. Não obstante, poder algum se sustenta e procria com liberdade e saúde sem amor, isto é, sem submissão a este poder maior.

A vontade de ganhar só poderá autenticamente vencer quando desistir de quitar as dívidas da sua alma sozinha, parar de achar que pode sanear sua economia aumentando seu patrimônio e atraindo investimento sem resolver sua dívida estrutural, sem modificar sua filosofia de gestão para uma economia solidária. E reconhecer que a vontade de amar é a melhor garantia para recebermos crédito sem juros, mesmo que a nossa dívida seja volumosa.

Bem-aventurado é aquele que descansa que sua dívida com Deus e consigo foi assumida por Jesus Cristo, e assuma essa verdade como VERDADE em sua vida. Este não passará sua vida tentando acertas contas consigo mesmo e querendo provar pra todo mundo que não precisava provar nada ninguém; porque sabe que tem como seguro de vida para esta e para a outra vida o maior, mais valioso e único perfeito amor, que é o amor de Deus.

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