sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O feminino e o sagrado

O relato da criação afirma que Deus à sua imagem e semelhança, criou homem e mulher (Gênesis 1.26-30), o que quer dizer que sua natureza incorpora o feminino e o masculino. Embora se revele como pai, Deus se compara também a uma mãe que consola (Isaías 66.13) e que jamais se esquece de seus filhos (Isaías 49.15).

O feminino aparece de modo reluzente na revelação do povo de Deus. Sua igreja é descrita como uma ex-prostituta que é tomada e transformada por Ele numa mulher bela e formosa, para ser apresentada como uma noiva adornada para o cordeiro - Jesus Cristo (Ezequiel 16.1-14; Apocalipse 21.2).

Na vida de Jesus o feminino também se mostra resplandecente. A começar de sua genealogia relatada por Mateus (Mateus 1.1-12), na qual, contrariando a cultura da época, inclui o nome de quatro mulheres: Tamar, Raab, Rute e Maria. Nasce de uma concepção virginal de Maria. A seu pedido transforma a água em vinho (João 2.1-11). Compadece-se da dor de suas amigas, Marta e Maria, pela morte de Lázaro, seu irmão, que também era seu amigo, e o ressuscita (João 11.1-46). Escandaliza a moral de sua época ao conversar a sós com uma mulher, causando maior surpresa ainda por ser samaritana – os samaritanos eram considerados pelos judeus um povo impuro por terem se miscigenizados culturalmente - , e revela a ela o seu poder causando espanto até nos discípulos (João 4.27). No seu ministério se faz acompanhar de mulheres, como Maria Madalena, Joana, Suzana e Maria, mãe de Tiago (Lucas 8.1-3; 23.49). E as primeiras testemunhas de sua ressurreição são mulheres (Lucas 24.6-10), contrariando o bom senso, já que o testemunho de uma mulher não tinha validade jurídica.

O apóstolo Paulo sintetiza a mensagem revolucionária de Jesus num ato de transcendência ao condicionamento sociocultural na qual estava inserido (no qual a mulher era situada numa condição subalterna ao homem) afirmando que em Cristo não existe homem nem mulher, judeu nem grego, escravo nem livre, mas todos somos um (Gálatas 3.28). Alias quem diz isso é o mesmo apóstolo estigmatizado por muitos como machista, devido algumas declarações suas ou que foram atribuídas a ele, proibindo a mulher de falar na Igreja (I Coríntios 14.34-36). O mesmo também que surpreende a moral religiosa e secular de seus contemporâneos, judeus e gregos, ao reconhecer que a sexualidade na mulher existe também para obtenção de prazer pessoal e não somente para procriar e saciar o apetite libidinal do homem: “A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim o marido; e também, semelhantemente, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim a mulher (I Coríntios 7.4)”.

Que a Igreja de Cristo possa proclamar as verdades revolucionárias de Cristo, para que as pedras não precisem mais clamar, se apropriando de verdades que caberia a ela primordialmente proclamar. Afinal, o Espírito Santo foi derramado sobre toda a carne, sobre homens e mulheres, e distribuiu diversos dons para ambos ministrarem o Evangelho (Joel 2.28-29; Atos 2.1-21).

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