sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Meditar e orar faz bem

A medicina ocidental tem descoberto nos seus laboratórios, por intermédio de seu típico método experimental, respaldado em resultados verificáveis e quantificáveis, àquilo que os orientais já sabiam via intuição há pelo menos 2,5 milênios: meditar e orar faz bem pra saúde.

Pesquisa comparativas feitas entre monges budistas e freiras comprovaram que o hábito de meditar ou de orar e rezar reduz a produção de adrenalina e cortisol, os hormônios responsáveis pelo estresse, o que reduz a pressão arterial, regulariza os batimentos cardíacos e evita o acúmulo de gorduras nas artérias, prevenindo desta maneira a ocorrência de doenças coronárias. Já as ondas cerebrais, alfa e beta, associadas à sensação de relaxamento aumentam assim como a produção de serotonina, o neurotransmissor responsável pela regulação do sono, do humor e do apetite, e de endorfina (endo, interno + morfina, analgésico), o neurotransmissor encarregado de aliviar a dor.

Os mais disciplinados e fervorosos tem a atividade do seu lobo temporal, a região cerebral responsável pelo senso de orientação, pela percepção do tempo e do espaço, e pelo senso de individualidade, diminuída progressivamente até cessar nos momentos de pico. Mas, paralela e inversamente a isso a atividade do sistema límbico, o “cérebro emocional”, responsável pela memória e pelas respostas afetivas é aumentada. O efeito desses movimentos contraditórios é a expansão da consciência, que produz a sensação de união com o universo e o êxtase.

Para aqueles que precisam da autenticidade científica para dar valor a uma prática, agora podem meditar, rezar ou orar, mesmo porque o que importa no rito ou na técnica, como os ocidentais preferem, é ter um foco bem definido para disciplinar a mente. O foco pode ser a inspiração e a respiração, um som, uma imagem, uma paisagem, uma música, um mantra ou qualquer outro estímulo visual, sonoro ou tátil que facilite a concentração, a instrospecção e a reflexão.

O problema que vejo na importação de práticas orientais pelo Ocidente materialista é o uso pragmático que se faz delas. Isto é problemático porque o rito ou método terapêutico não nasceu num laboratório científico, nem tiveram uma composição neutra, mão como desdobramento de um sistema de crenças, ligados a uma teoria ou teologia, enraizados num padrão cultural.

Embora haja semelhanças nos procedimentos e no efeito que eles produzem, um estudo comparativo das religiões mostra isso - e, diga-se de passagem, há diferentes formas de entender as semelhanças -, ao transportá-los para uma outra cultura é necessário que se faça devidas adaptações. E para isso não é simplesmente ou necessariamente laicizar a prática, isto é, expurgá-la de seus traços religiosos, mas requer também rever – não negar nem subordinar - a nossa percepção do mundo, a nossa teologia ou nossa teoria sob risco de desvirtuamento do método.

A percepção média do oriental é global e do ocidental é compartimentada. O oriental médio entende a dor e o sofrimento como fenômenos que fazem parte da naturalidade da vida, que devem ser refletidos, e encarados, porque são vitais para o nosso amadurecimento. O ocidental médio os entende como “estraga-prazeres”, como obstáculos à felicidade, aos quais na medida do possível deve se fugir ou combatê-los artificial ou ilusoriamente.

Por que ressalto isso? Porque o ocidental tende a cair na ilusão de que a meditação ou alguma prática congênere, se bem efetuada, é um método natural que blindagem da dor e do sofrimento. E na imprudência de meditar para ter sensações psicodélicas e experiências surreais. Se muita gente faz isso com as drogas naturais e sintéticas, porque não o faz com a meditação.

É bom lembrar que um dos objetivos da meditação é a limpeza da mente, e nesse processo inevitavelmente há contato com memórias dolorosas que evocam sentimentos e emoções poluídas que “assombram a casa”, que se não está edificada sobre a rocha, sua estrutura se abala, seus “moradores” ficam desesperados e “saem correndo”, isto quando não surtam.

Sou simpático à meditação, como a acupuntura, a ioga e a aromaterapia. Embora pratique a meditação – a meu modo – menos do que gostaria de praticar, por indisciplina minha, comprovo seus benefícios, a sua salubridade, assim como os da acupuntura, bem antes de saber da chancela da medicina ocidental.

Em relação à espiritualidade cristã creio que a meditação pode ser um instrumento facilitador de autoconhecimento e de ampliação da consciência para uma apreensão maior do conhecimento revelado por Deus em Cristo. Os exercícios espirituais requerem disciplina, o que não tem nada a ver com autopunição, mas tudo a ver com o condicionamento para uma vida mais saudável.

Todavia, o cristão deve saber que ele é chamado a viver pela fé, entre outras razões porque sua sensibilidade é um radar falível para detectar a Palavra de Deus e porque a Palavra de Deus não produz necessariamente alterações químicas e fisiológicas no organismo. Deus fala e escuta mesmo quando a gente não geme, fica com as emoções “a flor da pele”, com o “coração aquecido” ou é tomado por alguma outra emoção arrebatadora ou quando tem uma crise nervosa. Creio, aliás, que na maioria das vezes Ele não fala e nem escuta assim. E o que certifica isso é a fé, não nossos órgãos dos sentidos.

Por fim, o cristão deve estar ciente também que não há vias naturais ou artificiais de acesso a Deus, que relativizem a mediação de Cristo ou que substitua a Graça. Isto porque diferentemente da compreensão budista a resposta para os problemas do ser humano não está nele, nem nele a capacidade para purificar mente, tampouco o luminoso está no centro da sua individualidade. A resposta está sim na ação graciosa e misericordiosa de Deus através de sua Palavra, a saber, Jesus Cristo, que vai ao encontro do ser humano, quando este busca ou pensa que foge de sua presença, e lhe comunica que a sua vida foi purificada na cruz.

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